quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O jornalismo de amanhã

Abordando os novos rumos do profissão, Marcos Sá Corrêa começou sua palestra na tarde desta quarta-feira falando aos estudantes de jornalismo presentes sobre a escolha que fizeram numa era em que o jornal está acabando: “Não sei se tenho pena ou inveja". Sá Corrêa falou dos novos formatos, do sites NoMínimo e O Eco, de um “jornal falado, filmado, fotografado e escrito, tudo ao mesmo tempo”.

“Não tinha a menor intenção de ser jornalista”, falou Sá Corrêa sobre o começo da carreira. Formado em História e trabalhando no Jornal do Brasil como fotógrafo, resolveu fazer um curso da Abril, sonhando em trabalhar na revista Realidade e em comprar um fusca. Acabou na então recente revista Veja. “Resolvi experimentar um pouco.” “Caí num momento histórico”, fala sobre o início, cobrindo política para Veja, em agosto de 1968. Hoje, Sá Corrêa define a política brasileira como “uma tragédia feita por maus comediantes”. “As pessoas mais desinteressantes do Brasil são os políticos”, completa.

Sobre NoMínimo e O Eco, Sá Corrêa diz ter começado após “uma sensação de enjôo do noticiário brasileiro”. “O sujeito que faz jornalismo como eu vai acabar”, vaticinou. Assim como o site O Eco, o novo jornalismo, segundo Sá Corrêa, é feito “num canto de mesa com dois, três gatos pingados”. De acordo com ele, um notebook é suficiente se o jornalista for para onde tem notícia, definindo notícia como “aquilo que acontece no Brasil onde não tem nenhum jornalista”. Sá Corrêa ainda criticou o atual formato da imprensa brasileira. “Cadê as sucursais, os correspondentes?”, questionou.

A fuga do eixo Rio-São Paulo-Brasília é uma das explicações para o nome da revista piauí, mas não a única. A revista, “pensada de maneira anárquica”, começou com “três malucos numa mesa de bar”. Sá Corrêa explicou sobre a escolha das pautas e matérias. Segundo o jornalista, basta que alguém goste muito de um texto ou reportagem e o defenda com bons argumentos que o espaço na revista está garantido. “A piauí tem cuidado ao contar uma história.”

“Reportagem é aquilo que quando começa da uma dor na barriga, um aperto” afirma. Sobre isenção no jornalismo, diz Sá Corrêa: “Não acredito que um bom repórter possa ser isento. Ele pode ser exato, mas não isento. O texto deve ter um mínimo de alma e a alma tira a isenção da reportagem”. Mesmo com todas as dúvidas e projetos em relação ao jornalismo na era da internet, Sá Corrêa acredita num repórter dos tempos da sonhada revista Realidade. “Repórter é o profissional da ignorância, ele está sempre na fronteira daquilo que não sabe”, define.

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