quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Auditório cheio para ver Marcos Uchôa

A esperada palestra de Marcos Uchôa lotou o auditório do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), na UFSC, na noite de ontem. O repórter da Rede Globo falou sobre a cobertura esportiva de jogos olímpicos e copas do mundo, contou histórias de suas passagens por países como Iraque e Afeganistão, além de sua experiência como correspondente internacional em Londres.

A capital britânica, para o jornalista, é o lugar mais interessante para ser correspondente. “Londres tem abertura para o mundo. Ter ficado onze anos lá foi um privilégio, sob esse aspecto”. Por outro lado, ressaltou o fato de um correspondente ser muito cobrado para produzir. “Você é obrigado a fazer render alguma coisa, já que estão gastando para você estar lá”, disse.

Sobre o que rende, ou não, em televisão, Uchôa foi categórico ao dizer que a imagem tem uma tendência em deturpar o que é importante. Como exemplo, citou a questão de como a televisão aborda o meio ambiente. “É complicado pra tevê porque uma espécie está em extinção mas não está desaparecendo na frente da câmera”, ilustrou.

Uchôa, que cobriu a guerra do Iraque, disse haver uma tendência em achar que guerra é muito interessante para a televisão porque tem imagens fantásticas, como explosões. Em contrapartida, assuntos importantes, como o meio ambiente, ficam de fora por não “servir” para a tevê. “A televisão não vai onde a noticia está; a notícia vai onde a televisão está”, constatou.

A cobertura da gripe aviária foi citada pelo repórter como um exemplo do poder que a televisão e outros meios de comunicação têm para sentenciar o que é ou não notícia. “A gripe aviária foi um ‘movimento de manada’; um repórter cobriu, todos começaram a cobrir e não era uma coisa relevante para o mundo em geral. Não morreram sequer dezenas de pessoas e a imprensa fez um estardalhaço”, criticou. “Muitas vezes, a notícia está onde o jornalista está”, concluiu.

Em guerras, muitos repórteres, segundo Uchôa, ficam vulneráveis a dar ou não informações que todos estão dando mas que não procedem. “Informações dadas pelos Estados Unidos, na guerra do Iraque, por exemplo. Falavam que havia acontecido um ataque de carro-bomba quando, na verdade, não passava de um simples acidente de trânsito”, contou.

O trabalho de cobertura de guerra levanta algumas questões para Uchôa, como o uso de coletes à prova de balas por jornalistas. “Não concordo com o uso de coletes. Que imagem você está passando para as pessoas que vivem naquele lugar e estão sem dinheiro, sem comida, sem nada? A de que a sua vida vale mais do que a delas”. E criticou: “A menos que seja uma situação de tiroteio, não passa de uma fantasia de repórter ‘mamãe eu fui à guerra’; e, lamentavelmente, muitos repórteres gostam disso”.

As críticas do jornalista estenderam-se inclusive à Rede Globo, no que diz respeito ao tom usado em muitas das matérias da emissora. “Há um exagero em querer mostrar os dois lados de tudo, e eu vejo isso na Globo. Há um limite pra isso; vai se dizer que Hitler matou milhões mas que era vegetariano e gostava de criancinha?”, ironizou.

Questionado sobre a relação amistosa da emissora com a Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, Uchôa justificou: “Podemos fazer matérias super legais, no quarto dos jogadores, por exemplo, porque temos uma boa relação com o assessor de imprensa da seleção”. Apesar de concordar que a emissora é amena com críticas à seleção brasileira, o jornalista faz o mea-culpa de quem acha não ser possível desejar um jornalismo isento e, cada vez mais, boas matérias e exclusividade. “A relação não é totalmente promíscua”, defendeu.

Assessoria de Imprensa

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