quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O Brasil de contrastes na imprensa internacional

Na tarde de hoje, a correspondente internacional Verônica Goyzueta chegou com a palestra em um guardanapo, fez a platéia rir e falou do Brasil com a segurança e conhecimento de quem mora no país há quinze anos. A peruana, editora no Brasil da revista chilena AméricaEconomia e do jornal espanhol ABC, começou fazendo um mapa de localização dos correspondentes estrangeiros. O país é diferente dos outros, onde a grande concentração de correspondentes é na capital; aqui, dos trezentos, apenas quinze moram em Brasília. Segundo Verônica, a grande maioria mora no Rio de Janeiro, pelas praias, e em São Paulo, pela estrutura e concentração de notícias.

A jornalista conta que a maior dificuldade dos correspondentes estrangeiros é “traduzir um país como o Brasil para pessoas que não o conhecem”. E deixa claro que, muitas vezes, o Brasil acaba estereotipado na imprensa internacional porque o público estrangeiro quer ver este estereótipo, não consegue entender as coisas como são. Como exemplo, ela fala do carnaval. “É muito difícil explicar que existem escolas de samba, e que no desfile cada quesito conta pontos, eles não gostam. Preferem saber que carnaval é uma festa aonde as pessoas vão às ruas festejar com batucada”. Além disso, os contrastes do Brasil tornam-se um problema. “Você tem que dar a notícia de violência, do louco que matou crianças na porta da igreja, e ao mesmo tempo a de que o país cresceu muito, inventou o biodiesel e etanol, produz aviões. Como explicar o país que é uma potência e que ao mesmo tem fragilidades sociais tão grandes?”, questiona. Por este motivo, ela acredita que os correspondentes conseguem passar apenas um fragmento da realidade brasileira ao mundo.

Ao ser questionada sobre a exaltação da violência brasileira no exterior, a correspondente responde: “não estamos trabalhando no país da Cinderela, nós consideramos, principalmente no caso do Rio de Janeiro, uma cobertura de guerra mesmo.”

Mesmo assim, Verônica avalia positivamente o trabalho dos correspondentes. “Não temos o rabo preso com ninguém do país, muitas vezes somos a ponte da população com a imprensa internacional nas denúncias”, e completa: “se você tem um correspondente, ele manda as notícias do país adaptadas à realidade da população para quem escreve, não é pasteurizado como as de agências”.

Sobre a imprensa brasileira, a jornalista afirma que o país tem muitos projetos interessantes de jornalismo, mas que acabam quebrando pela falta de leitores. “Vocês partem de uma base muito boa, com jornalismo investigativo e furos”, afirma. Mas faz ressalvas: “a imprensa brasileira esbarra em seus interesses e acaba atropelando alguns assuntos de extrema importância. E apesar do crescimento nos últimos anos, ainda é pouca a cobertura da América Latina, os parceiros do Brasil”.

E o que ela acha de alguém que vem de um país, mora em outro e o cobre para um terceiro? “Isso é a globalização”, ri.

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