sábado, 27 de outubro de 2007

Penúltima palestra com repórter da Piauí

Jornalismo de comportamento e Piauí foram os assuntos da tarde de ontem, apresentados por Daniela Pinheiro. A jornalista trabalha na revista desde janeiro, após dez anos na Veja. Sobre esta transição ela comenta: “a Piauí tem texto solto, mas para fazer isso, você precisa aprender muito bem o texto preso. Eu trabalhei dez anos com o texto preso”. Na opinião de Daniela, a Veja é a melhor escola. “Todo mundo devia trabalhar lá, aprendi a hierarquia da redação, a cultivar fontes, a separar a relação das fontes com o jornalismo...”, enfatiza.

A repórter conta que na Piauí não existe uma hierarquia de redação, pois são apenas em sete repórteres, e nem reunião de pauta. “Eu sinto falta da reunião, mas também acho que não ia dar certo, pois carioca fala demais”, graceja. Na revista, os repórteres propõe a pauta aos diretores e a maioria deles viaja muito, por isso, no começo do mês é difícil encontrar alguém nas redações. “A revista acaba ficando muito cara, mas ela permite a possibilidade de fazer matérias que ninguém nunca viu. Além disso, não há prazos para entregas, a reportagem do João Moreira Salles sobre o FHC, por exemplo, demorou sete meses para ficar pronta”, explica Daniela, e complementa que quem não tem matéria para sair naquele mês ajuda no fechamento da edição. Sobre os textos da Piauí, ela avalia: “como são longos, é muito fácil começar a encher lingüiça, deixar o texto solto demais ou até maçante”.

Muitos textos da jornalista, tanto na Veja quanto na Piauí, são de jornalismo comportamental ou têm de algum tipo de análise de comportamento. Ao falar deste tipo de reportagem ela pergunta: “como evitar o brega?”. E responde com algumas dicas: “Primeiro, é preciso sobriedade na hora de escrever. Depois temos que evitar o cacoete das metáforas, elas são muito comuns e eu acho desnecessárias. Além disso, é muito fácil você achar que já viu aquilo muitas vezes, mas temos que ter o olho para ver as coisas que parecem banais e rendem boas histórias”. Daniela se diz contra a moralidade, filosofias e lições nas reportagens, e finaliza: “no jornalismo comportamental é legal ter um personagem, é só procurar, existe personagem para tudo”.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

TV Pública em debate

A penúltima noite da VI Semana do Jornalismo contou com a presença de quatro jornalistas para debater a criação da TV Brasil. Foi o primeiro debate sobre TV Pública aberto à sociedade do país.

O debate ocorreu no mesmo dia que saiu o decreto publicado no Diário Oficial da União, que oficializou a criação da Empresa Brasil Comunicação, gestora da TV pública que será inaugurada no dia 2 de dezembro.

O decreto também oficializou a nomeação da jornalista Tereza Cruvinel, que deixou a GloboNews e jornal O Globo, para diretora-presidente da rede, e de Orlando de Salles Senna, atual secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, para diretor-geral da empresa.

O ofício é mais uma formalidade para a TV Pública sair do papel. Há cerca de 15 dias, o governo editou medida provisória autorizando a criação da nova empresa, que surge da fusão da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), que leva ao ar a TV Educativa do Rio e a TV Educativa do Maranhão, e a Radiobras, estatal federal. O capital social da TV Pública é de R$ 200 milhões. O orçamento para 2008 é de R$ 350 milhões, mas sua meta obter mais R$ 60 milhões com publicidade.

A TV pública nasce vinculada à Secretaria de Comunicação Social, mas o estatuto diz que ela terá 'autonomia em relação ao governo'. Esse foi um dos pontos mais polêmicos do debate. Participaram James Gorgen do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação), Diogo Moyses do Intervozes(Coletivo Brasil de Comunicação Social), José Roberto Garcez, último presidente da RadioBrás, e Áureo Moraes, da TV Cultura de Santa Catarina.

O professor Carlos Locatelli de Políticas de Comunicação, que intermediou o debate, abriu a discussão falando da importância de discutir-se um tema de tamanha complexidade, como a criação da TV Brasil e a regulamentação da comunicação em geral.

Diogo Moyses ressaltou que uma TV Pública deveria ter autonomia de gestão e de financiamento. Complementou que TV Cultura não faz valor ao sistema público e criticou a TV Brasil que está sendo criada: "O conselho gestor e a diretoria executiva são nomeados pelo presidente da república, o que implica na influência do governo no conteúdo da TV".

O último presidente da Radiobrás contou um pouco da história da comunicação eletrônica no Brasil, que começou nos anos 20, com a rádio Sociedade. Garcez acrescentou ainda que o debate pela discussão desse tema, foi sendo estimulado a partir dos anos 80. Já nos anos 90, a ABEPEC impulsionou a criação da Tv Cultura de São Paulo.

O debate entre os palestrantes discutiu principalmente as TVs legislativas, comunitárias e universitárias, que formam o campo público. As diferenças entre o regime estatal e público também foram ressaltas.

James Gorgen levantou duas questões que fizeram arregalar os olhos da platéia. O jornalista afirmou que toda TV é pública porque até as comerciais acabam sendo financiadas pela publicidade do governo. Além de questionar se com a criação da TV Brasil, nós teremos uma Globo de sinal contrário? Gorgen também elogiou a cobertura da TV Senado do caso Renan Calheiros e ressaltou a interferência das prefeituras nas filiais da Rede Globo.

Os jornalistas concordaram com o levantamento de Gorgen de que a TV Pública poderia, sim, ser criada para agregar inclusão digital à sociedade, desde que surgisse um pacote garantindo TV, rádio e internet às pessoas com o pagamento de uma taxa domiciliar. Para Gorgen, essa taxa deveria ser criada porque garante um serviço em troca, ao contrário dos impostos.

Outros pontos foram levantados pelos palestrantes. Desde a importância da conscientização da população de que comunicação é um direito de todos, além de ressaltarem que nenhum sistema de TV está livre de ser "chapa branca".

A platéia questionou os convidados sobre a produção independente de conteúdo na TV Pública e Diogo Moyses aproveitou para encerrar o debate jogando a pergunta aos presentes: por que o conteúdo que vocês produzem não é exibido?


Comissão de Assessoria.

Certificados dos minicursos por correio

Os certificados para quem compareceu a, pelo menos, 75% das aulas de seu minicurso serão enviados pelo correio. Para receber o seu basta mandar o endereço residencial para o email minicursoss@gmail.com

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O Brasil de contrastes na imprensa internacional

Na tarde de hoje, a correspondente internacional Verônica Goyzueta chegou com a palestra em um guardanapo, fez a platéia rir e falou do Brasil com a segurança e conhecimento de quem mora no país há quinze anos. A peruana, editora no Brasil da revista chilena AméricaEconomia e do jornal espanhol ABC, começou fazendo um mapa de localização dos correspondentes estrangeiros. O país é diferente dos outros, onde a grande concentração de correspondentes é na capital; aqui, dos trezentos, apenas quinze moram em Brasília. Segundo Verônica, a grande maioria mora no Rio de Janeiro, pelas praias, e em São Paulo, pela estrutura e concentração de notícias.

A jornalista conta que a maior dificuldade dos correspondentes estrangeiros é “traduzir um país como o Brasil para pessoas que não o conhecem”. E deixa claro que, muitas vezes, o Brasil acaba estereotipado na imprensa internacional porque o público estrangeiro quer ver este estereótipo, não consegue entender as coisas como são. Como exemplo, ela fala do carnaval. “É muito difícil explicar que existem escolas de samba, e que no desfile cada quesito conta pontos, eles não gostam. Preferem saber que carnaval é uma festa aonde as pessoas vão às ruas festejar com batucada”. Além disso, os contrastes do Brasil tornam-se um problema. “Você tem que dar a notícia de violência, do louco que matou crianças na porta da igreja, e ao mesmo tempo a de que o país cresceu muito, inventou o biodiesel e etanol, produz aviões. Como explicar o país que é uma potência e que ao mesmo tem fragilidades sociais tão grandes?”, questiona. Por este motivo, ela acredita que os correspondentes conseguem passar apenas um fragmento da realidade brasileira ao mundo.

Ao ser questionada sobre a exaltação da violência brasileira no exterior, a correspondente responde: “não estamos trabalhando no país da Cinderela, nós consideramos, principalmente no caso do Rio de Janeiro, uma cobertura de guerra mesmo.”

Mesmo assim, Verônica avalia positivamente o trabalho dos correspondentes. “Não temos o rabo preso com ninguém do país, muitas vezes somos a ponte da população com a imprensa internacional nas denúncias”, e completa: “se você tem um correspondente, ele manda as notícias do país adaptadas à realidade da população para quem escreve, não é pasteurizado como as de agências”.

Sobre a imprensa brasileira, a jornalista afirma que o país tem muitos projetos interessantes de jornalismo, mas que acabam quebrando pela falta de leitores. “Vocês partem de uma base muito boa, com jornalismo investigativo e furos”, afirma. Mas faz ressalvas: “a imprensa brasileira esbarra em seus interesses e acaba atropelando alguns assuntos de extrema importância. E apesar do crescimento nos últimos anos, ainda é pouca a cobertura da América Latina, os parceiros do Brasil”.

E o que ela acha de alguém que vem de um país, mora em outro e o cobre para um terceiro? “Isso é a globalização”, ri.

Auditório cheio para ver Marcos Uchôa

A esperada palestra de Marcos Uchôa lotou o auditório do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), na UFSC, na noite de ontem. O repórter da Rede Globo falou sobre a cobertura esportiva de jogos olímpicos e copas do mundo, contou histórias de suas passagens por países como Iraque e Afeganistão, além de sua experiência como correspondente internacional em Londres.

A capital britânica, para o jornalista, é o lugar mais interessante para ser correspondente. “Londres tem abertura para o mundo. Ter ficado onze anos lá foi um privilégio, sob esse aspecto”. Por outro lado, ressaltou o fato de um correspondente ser muito cobrado para produzir. “Você é obrigado a fazer render alguma coisa, já que estão gastando para você estar lá”, disse.

Sobre o que rende, ou não, em televisão, Uchôa foi categórico ao dizer que a imagem tem uma tendência em deturpar o que é importante. Como exemplo, citou a questão de como a televisão aborda o meio ambiente. “É complicado pra tevê porque uma espécie está em extinção mas não está desaparecendo na frente da câmera”, ilustrou.

Uchôa, que cobriu a guerra do Iraque, disse haver uma tendência em achar que guerra é muito interessante para a televisão porque tem imagens fantásticas, como explosões. Em contrapartida, assuntos importantes, como o meio ambiente, ficam de fora por não “servir” para a tevê. “A televisão não vai onde a noticia está; a notícia vai onde a televisão está”, constatou.

A cobertura da gripe aviária foi citada pelo repórter como um exemplo do poder que a televisão e outros meios de comunicação têm para sentenciar o que é ou não notícia. “A gripe aviária foi um ‘movimento de manada’; um repórter cobriu, todos começaram a cobrir e não era uma coisa relevante para o mundo em geral. Não morreram sequer dezenas de pessoas e a imprensa fez um estardalhaço”, criticou. “Muitas vezes, a notícia está onde o jornalista está”, concluiu.

Em guerras, muitos repórteres, segundo Uchôa, ficam vulneráveis a dar ou não informações que todos estão dando mas que não procedem. “Informações dadas pelos Estados Unidos, na guerra do Iraque, por exemplo. Falavam que havia acontecido um ataque de carro-bomba quando, na verdade, não passava de um simples acidente de trânsito”, contou.

O trabalho de cobertura de guerra levanta algumas questões para Uchôa, como o uso de coletes à prova de balas por jornalistas. “Não concordo com o uso de coletes. Que imagem você está passando para as pessoas que vivem naquele lugar e estão sem dinheiro, sem comida, sem nada? A de que a sua vida vale mais do que a delas”. E criticou: “A menos que seja uma situação de tiroteio, não passa de uma fantasia de repórter ‘mamãe eu fui à guerra’; e, lamentavelmente, muitos repórteres gostam disso”.

As críticas do jornalista estenderam-se inclusive à Rede Globo, no que diz respeito ao tom usado em muitas das matérias da emissora. “Há um exagero em querer mostrar os dois lados de tudo, e eu vejo isso na Globo. Há um limite pra isso; vai se dizer que Hitler matou milhões mas que era vegetariano e gostava de criancinha?”, ironizou.

Questionado sobre a relação amistosa da emissora com a Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, Uchôa justificou: “Podemos fazer matérias super legais, no quarto dos jogadores, por exemplo, porque temos uma boa relação com o assessor de imprensa da seleção”. Apesar de concordar que a emissora é amena com críticas à seleção brasileira, o jornalista faz o mea-culpa de quem acha não ser possível desejar um jornalismo isento e, cada vez mais, boas matérias e exclusividade. “A relação não é totalmente promíscua”, defendeu.

Assessoria de Imprensa

Fotos da VI Semana do Jornalismo

Acompanhe a cobertura fotográfica em

http://www.flickr.com/photos/semanadojornalismo/

O jornalismo de amanhã

Abordando os novos rumos do profissão, Marcos Sá Corrêa começou sua palestra na tarde desta quarta-feira falando aos estudantes de jornalismo presentes sobre a escolha que fizeram numa era em que o jornal está acabando: “Não sei se tenho pena ou inveja". Sá Corrêa falou dos novos formatos, do sites NoMínimo e O Eco, de um “jornal falado, filmado, fotografado e escrito, tudo ao mesmo tempo”.

“Não tinha a menor intenção de ser jornalista”, falou Sá Corrêa sobre o começo da carreira. Formado em História e trabalhando no Jornal do Brasil como fotógrafo, resolveu fazer um curso da Abril, sonhando em trabalhar na revista Realidade e em comprar um fusca. Acabou na então recente revista Veja. “Resolvi experimentar um pouco.” “Caí num momento histórico”, fala sobre o início, cobrindo política para Veja, em agosto de 1968. Hoje, Sá Corrêa define a política brasileira como “uma tragédia feita por maus comediantes”. “As pessoas mais desinteressantes do Brasil são os políticos”, completa.

Sobre NoMínimo e O Eco, Sá Corrêa diz ter começado após “uma sensação de enjôo do noticiário brasileiro”. “O sujeito que faz jornalismo como eu vai acabar”, vaticinou. Assim como o site O Eco, o novo jornalismo, segundo Sá Corrêa, é feito “num canto de mesa com dois, três gatos pingados”. De acordo com ele, um notebook é suficiente se o jornalista for para onde tem notícia, definindo notícia como “aquilo que acontece no Brasil onde não tem nenhum jornalista”. Sá Corrêa ainda criticou o atual formato da imprensa brasileira. “Cadê as sucursais, os correspondentes?”, questionou.

A fuga do eixo Rio-São Paulo-Brasília é uma das explicações para o nome da revista piauí, mas não a única. A revista, “pensada de maneira anárquica”, começou com “três malucos numa mesa de bar”. Sá Corrêa explicou sobre a escolha das pautas e matérias. Segundo o jornalista, basta que alguém goste muito de um texto ou reportagem e o defenda com bons argumentos que o espaço na revista está garantido. “A piauí tem cuidado ao contar uma história.”

“Reportagem é aquilo que quando começa da uma dor na barriga, um aperto” afirma. Sobre isenção no jornalismo, diz Sá Corrêa: “Não acredito que um bom repórter possa ser isento. Ele pode ser exato, mas não isento. O texto deve ter um mínimo de alma e a alma tira a isenção da reportagem”. Mesmo com todas as dúvidas e projetos em relação ao jornalismo na era da internet, Sá Corrêa acredita num repórter dos tempos da sonhada revista Realidade. “Repórter é o profissional da ignorância, ele está sempre na fronteira daquilo que não sabe”, define.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Nova palestrante confirmada para quinta-feira


A jornalista peruana Verónica Goyzueta confirmou a palestra na VI Semana do Jornalismo amanhã, às 14h, para substituir Todd Benson.

Verónica Goyzueta é formada em Letras pela PUC de Lima, no Peru; em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. É editora no Brasil da revista chilena AméricaEconomia, e correspondente do jornal ABC, da Espanha. Foi também correspondente do jornal Tiempos del Mundo (EUA), da agência de notícias Dow Jones (EUA), e da Agência de Notícias de México (Notimex). Tem colaborações jornalísticas publicadas em diversos periódicos latino-americanos, norte-americanos e europeus. É presidente da Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE) e co-organizadora do livro "Guerra e Imprensa. Um olhar crítico da cobertura da Guerra do Iraque", São Paulo, Summus, 2003, uma coletânea de artigos de doze correspondentes que analisam o trabalho da mídia dentro e fora do Brasil, no período entre a invasão do Iraque e a queda de Saddam Hussein. Foi vencedora do Prêmio Comunique-se na categoria de melhor correspondente estrangeiro no Brasil (2005).


Comissão de Assessoria.

Todd Benson fora da VI Semana

O jornalista Todd Benson, da Reuters, cancelou a palestra de quinta-feira, às 14h, por motivo de falecimento de um familiar.

O vencedor do Prêmio Comunique-se de Correspondente Estrangeiro no Brasil lamentou a ausência e garantiu que fará uma palestra na UFSC assim que possível.

A organização da VI Semana do Jornalismo está empenhada em confirmar um novo contato para a palestra de amanhã. Aguarde mais informações aqui no blog.

Comissão de Assessoria.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Gustavo Krieger discute o jornalismo e a política no Brasil

O cenário político nacional e a sua cobertura pela imprensa foram os focos principais da palestra de Gustavo Krieger, na noite de hoje. O repórter especial de política do Correio Braziliense discutiu, a partir de reportagens e das perguntas do público, desde a relação de confiança com as fontes até a responsabilidade na publicação de uma matéria de denúncia.

Krieger considera o uso de fontes complicado no jornalismo político, já que a grande maioria delas são os próprios políticos. “A verdade é que político mente, ele mente sempre que a sua sobrevivência política depender disso, e mais uma coisa: eles são bons nisso”, enfatiza, ressaltando o perigo de se ter como matéria-prima uma informação que pode ser falsa.

O cuidado deve ser tomado, principalmente, com as matérias de denúncia. “Quem sabe sobre corrupção é o corrupto. É muito difícil receber uma matéria pura, sem interesse”, lembra o jornalista, que fez as primeiras matérias de corrupção do governo Collor e denunciou, na Revista Época, o envolvimento de Waldomiro Diniz em corrupção. Para ele, o jornalista deve sempre desconfiar se a denúncia não está sendo feita para esconder algo pior, e aconselha: “Para fugir destas fontes precisamos ter muita informação, para discernir quem mente ou não, para não virar leiloeiro de político. Quanto mais fontes, menos você precisa de cada uma delas”.

No caso Waldomiro Diniz, surgiu grande especulação sobre quem teria feito a denúncia ao repórter. “Ela chegou num envelope”, conta Krieger. Em seguida, deixa transparecer as dúvidas de um jornalista antes de publicar uma matéria de denúncia: “Você sabe que vai destruir a vida do cara, que o filho dele vai ser zoado na escola. Eu era amigo pessoal do Waldmiro; existencialmente, este foi o pior momento da minha vida”.

Além do lado pessoal do jornalista, outros fatores influem na publicação, ou não, deste tipo de matéria. “Às vezes o sujeito é um bandido, mas será que ele fez o que estamos acusando?”, questiona. Para o repórter, a reportagem deve ser sólida e baseada em provas: “Sem provas, ninguém escreve. Todo mundo sabia do mensalão, mas ninguém podia provar”.

E sobre as denúncias censuradas? “Quando isto acontece, só tem um jeito de lidar: ou aceita, ou não. Eu saí do jornal. Tem mais de um patrão no mundo”, explica Krieger, que em doze anos trocou nove vezes de emprego – em todos os casos foi ele quem se demitiu.

O jornalista também escreve para a revista Rolling Stone. “A diferença dos ‘jornais de gravata’ para a Rolling Stone é que ela é mais iconoclasta e contestatória. A abordagem é outra, mais liberdade de texto”. E finaliza: “escrever para a revista é um tesão. Minha profissão é jornalista, meu hobbie é ser repórter da Rolling Stone.”

Voltando ao assunto política, ele falasobre a criação da Empresa Brasil de Comunicação. “A TV Pública pode ser um excelente instrumento de cidadania ou se tornar um péssimo instrumento de propaganda”, finaliza com a propriedade de quem já trabalhou seis “longos e torturantes meses” na Radiobrás.

Fotojornalismo com poesia

Ana Carolina Fernandes mostrou que é possível reunir informação e beleza no fotojornalismo. A palestra da fotógrafa foi realizada na tarde desta terça-feira. "O jornalismo é a melhor profissão do mundo", começou Ana Carolina. A fotógrafa contou sobre o início de sua carreira, "aprendendo na marra, na rua". Ela estagiou em O Globo e no Jornal do Brasil, este último "uma grande escola" para a fotógrafa.

A repórter fotográfica da Folha de S. Paulo na sucursal do Rio de Janeiro comentou sobre a violência da cidade. Ela já fez um treinamento de guerra e trabalha freqüentemente com colete à prova de balas. A violência e o confronto entre polícia e tráfico é um tema recorrente nas fotos de Ana Carolina, algumas delas premiadas e mostradas durante a palestra. “Eu gosto dessa adrenalina, de estar no meio do tiroteio”, confessa.

A palestra foi também um momento para contar as boas histórias que estão por trás de uma boa foto. Se ela já teve medo de tirar alguma foto? Teve sim. Foi no começo da carreira, quando ainda era estagiária. O personagem era o então presidente João Figueiredo, que tomava banho de sol num hospital após uma cirurgia no coração. “Eu podia ter feito a foto, mas não fiz”, revela. Se antes ela tinha medo, hoje não tem mais. “Pior do que o medo é a energia do lugar. Tráfico, armamento, bandido, é a falta total de espiritualidade.”

A qualidade e a beleza das fotos de Ana Carolina chamaram a atenção das pessoas presentes. Segundo a fotógrafa, o supra-sumo do fotojornalismo é quando ele tem um toque de arte. “Tentar sempre fazer para não deixar a realidade tão dura” é a dica de uma profissional que procura sempre por “um pouco de poesia nas fotos”. Os temas preferidos? “O que eu realmente gosto de fotografar são pessoas, a cara do brasileiro, o ser humano na sua essência”, conta.

Ana Carolina deu várias dicas para um bom trabalho em fotojornalismo, como ficar atento aos detalhes da plasticidade e tentar passar a maior quantidade de informações na fotografia. E na hora do clique, a dica de uma fotógrafa que trabalha com “muito tesão” é essa: rezar para São Cartier-Bresson.

Do jornalismo às Copas do Mundo

Os dez anos na revista Placar pautaram a segunda palestra do dia, com Sérgio Xavier, que começou às 19h15 devido aos atrasos nos aeroportos. O jornalista sequer citou sua carreira como editor da revista IstoÉ e no jornal O Estado de S. Paulo.
Em uma hora e meia de palestra, o público participou ativamente das perguntas e questionamentos do jornalista.

A história da revista da editora Abril, cinco andares abaixo da redação de Veja, começou em 1970, em época de preparação para a Copa do Mundo do mesmo ano. Segundo Xavier, as vendas começaram mal e a publicação passou de semanal para ser distribuída mês a mês. Desde então, Placar começou a buscar a interação com um público cada vez mais jovem, o que explica as grandes mudanças nos logos da revista.

Com o escândalo das fraudes nas loterias esportivas, Placar começou a desenvolver uma nova linha editorial que dava mais atenção às reportagens de denúncia no futebol brasileiro. Mas o público cansou, de acordo com Sérgio Xavier, então diretor de redação da revista. "Futebol também é descontração, senso de humor, o público cansou de escândalo", confessou.

Mesmo se distanciando do viés investigativo, Xavier garante que se faz jornalismo na Placar antes de se fazer esporte. "As matérias da revista devem ser aprofundadas e ir até o fim da meada", afirmou. Para o jornalista, o diferencial do jornalismo da Placar está na capacidade de observação dos repórteres e na excelência fotográfica.

Nos slides-shows expostos durante a palestra, Xavier mostrou inúmeras fotos de grandes eventos esportivos, como um gol de Ronaldo na Copa de 2002 em que todos os jornais estamparam a foto do jogador, após um gol, na capa das edições. A Placar exibiu uma imagem da bola entrando na trave, sob um ângulo peculiar.

O jornalista afirmou que os fatos tem mais força que opiniões, e aproveitou para criticar a revista mais vendida da editora: "A Veja exagera nisso", concluiu. Entre as perguntas dos estudantes, Xavier discorreu sobre as maravilhas de se cobrir as Copas do Mundo para o lado pessoal e do ponto de vista humano do jornalista. "Para trabalhar, as copas são um lixo", esmiuçou, diante das dificuldades de contato com os jogadores. Quando questionado sobre sua opinião acerca do país sediar ou não uma Copa do Mundo, Xavier foi rápido: " Dá pra fazer Copa no Brasil, o problema é a corrupção, o quanto vai se meter a mão para fazer um evento desses".

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Rubens Valente abre VI Semana do Jornalismo

As histórias, reportagens e aventuras do jornalista Rubens Valente marcaram o começo da VI Semana do Jornalismo, no Auditório do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da UFSC. Como repórter do jornal Folha de São Paulo, Valente comentou o próprio ofício junto ao público, criticando o atual momento da imprensa brasileira.

Para Valente, o jornalismo nascido do repórter tem perdido espaço para o jornalismo de cobertura. Cada vez mais, os jornalistas ficam dependentes do acompanhamento contínuo e esquecem de tomar iniciativas. Outro ponto comentado por ele diz respeito ao apego dos profissionais pelo computador. “A máquina não vai dar uma boa história. (...) É preciso interrogas as pessoas”, ensina alguém que tem experiência de veículos como O Globo e Veja.

Questionado sobre o tempo em que trabalhou na revista, ele foi conciso a dizer que não se sentia muito à vontade para comentar o assunto. Para Valente, os métodos de edição e pauta usados pela revista não são aqueles que ele gostaria de conviver. “Talvez tenha sido a minha experiência pessoal, mas não foi muito boa”, encerrou.

Entre as diversas questões que comentou está o medo, presente em todos os jornalistas, de passar uma informação errada, especialmente dentro de uma reportagem investigativa. Ele mesmo admite que sabe que pode cometer enganos a qualquer hora mas, para evitá-los, vai acumulando experiências. E, para finalizar a palestra, deu uma dica a todos aqueles que o questionam a respeito do mercado - sugeriu que os jovens não esperem que a sociedade abra um espaço e façam o processo inverso, oferecendo um conhecimento e se aprimorando. “Naturalmente o mercado vai reconhecer o teu valor”.

Assessoria de Imprensa

Perguntas podem ser enviadas por e-mail

Nesta edição, quem assiste à programação via internet pode também fazer perguntas. Basta enviar sua pergunta por e-mail para semanadojornalismo@gmail.com.

Vinheta da VI Semana do Jornalismo

http://www.youtube.com/watch?v=GTGlK-ulVZI

Matérias sobre as palestras aqui no blog!

Ao longo desta semana os internautas encontrarão aqui no blog matérias sobre todas as palestras e mesas da VI Semana do Jornalismo. Portanto, se você perder ou quiser rever os principais assuntos de algum dos entrevistados, é só ficar ligado aqui no blog que estaremos com atualizações diárias do evento.

Atenciosamente,
Comissão de Assessoria.

Cobertura fotográfica e exposição durante a Semana

A partir de hoje, além da transmissão ao vivo das palestras no site, os internautas poderão acompanhar diariamente a cobertura fotográfica da VI Semana do Jornalismo através do Flickr. As fotos serão tiradas pelos integrantes da agência Ensaio Fotojornalismo (www.ensaiofotojornalismo.ufsc.br), primeira e única agência universitária de fotografia do País.

Durante a Semana, além da cobertura, a Ensaio organiza junto com o Centro de Documentação do curso de Jornalismo da UFSC (Hemeroteca) uma exposição do acervo fotográfico da instituição. Foram selecionadas 16 peças que representam a memória do curso e momentos importantes de Florianópolis e do estado nos últimos 28 anos - desde a criação do Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina. A exposição ficará montada entre terça e quinta-feira no bloco B do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), em frente ao auditório Henrique Silva Fontes (onde serão realizadas as palestras e mesas do evento).

sábado, 20 de outubro de 2007

Não perca o credenciamento dos minicursos!

O cadastramento para os minicursos da VI Semana do Jornalismo ocorrerá na próxima segunda-feira, dia 22 de outubro, a partir das 8h da manhã.
Quem recebeu a confirmação de inscrição por e-mail deve comparecer entre às 8h e 11h30 para não perder a vaga.
Já os que mandaram um e-mail de inscrição mas não conseguiram a vaga estão na lista de espera e devem comparecer ao local do cadastramento das 11h30 ao meio-dia para tentar uma vaga remanescente. Não é possível fazer o cadastramento em dois minicursos, quem inscreveu-se em mais de um, automaticamente sai da lista de espera do outro.
Mesmo quem não mandou e-mail também pode conseguir uma vaga, basta inscrever-se para a lista de espera pessoalmente durante todo o período de credenciamento e retornar após o meio-dia para obter a confirmação da vaga.

O cadastramento será feito no Departamento de Jornalismo, no Bloco A do Centro de Comunicação e Expressão do Campus da Universidade Federal de Santa Catarina.

Confira as sinopses dos filmes e TCCs

Durante a VI Semana do Jornalismo serão exibidos filmes que retratam a profissão e Trabalhos de Conclusão de Curso de ex-alunos do Jornalismo da UFSC.

Confira a programação destas exibições e as sinopses:
Filmes
TERÇA-FEIRA, 12h15 - Bom dia, Vietnã (1987, 103 min)
QUARTA-FEIRA, 12h15 - A luz é para todos (1947, 118 min)
QUINTA-FEIRA, 12h15 - De amor e de sombras (1993, 110 min)

Bom dia, Vietnã
Diretor: Barry Levinson
Ano: 1987
Duração: 103 minutos
O ator vencedor do Oscar, Robin Williams, causa uma comoção na Saigon de 1965, num papel para o qual ele parece ter nascido – o irreverente e rebelde DJ Adrian Cronauer. Convocado pelo exército para transmitir um programa matutino de rádio, Cronauer detona a caretice das ondas pasteurizadas da rádio, com sua saraivada constante de piadas e os últimos sucessos musicais da América. Os soldados o veneram enquanto as altas patentes o consideram um ultraje. Um bombardeio de situações hilárias, embalado pelos maiores sucessos das paradas da década de 60, o filme retrata as aventuras infames de Cronauer em meio a uma Saigon que parece ter enlouquecido.

A luz é para todos
Diretor: Elia Kazan
Ano: 1947
Duração: 118 minutos
O diretor Elia Kazan e o produtor Darryl Zanuck causaram sensação com a "história mais cativante já colocada em celulóide" (Hollywood Reporter), ganhadora de três prêmios Oscar – incluindo Melhor Filme. Um dos primeiros filmes a abordar diretamente o preconceito racial, esta aclamada adaptação do best seller de Laura Z. Hobson's estrela Gregory Peck como um jornalista encarregado de escrever uma série de artigos sobre o anti-semitismo. Procurando a abordagem adequada, ele resolve se passar por judeu, e logo descobre como é ser vítima da intolerância religiosa. Dorothy McGuire, John Garfield, Dean Sotckwell e June Havoc também estrelam este clássico sobre o pós-Guerra.

De amor e de sombras
Diretora: Betty Kaplan
Ano: 1993
Duração: 110 minutos
De amor e de sombras é baseado no romance de Isabel Allende, sobrinha do ex-presidente deposto, Salvador Allende, e autora de A casa dos espíritos, que rendeu o filme homônimo de Bille August. Conelly faz uma alienada repórter de uma revista de moda, que vive com a mãe (Stefania Sandrelli), dona de um asilo. Apesar da sua profissão e de namorar com um jovem militar, ela ignora a repressão política que domina seu país. Quem lhe abre os olhos é Francisco (Antônio Banderas), um fotógrafo de origem espanhola que luta contra o regime militar. Juntos, descobrem uma mina abandonada que os militares usam para esconder cadáveres. Apaixonados um pelo outro, eles precisam enfrentar uma arriscada fuga do país, com Conelly gravemente ferida.

TCCs

SEGUNDA-FEIRA, 17h – Da Rússia ao Brasil: a trajetória dos teuto-russos
TERÇA-FEIRA, 17h30 – É hora do milagre
QUARTA-FEIRA, 17h30 – Sem-tetos
QUINTA-FEIRA, 17h30 – Galo de briga

Da Rússia ao Brasil: A trajetória dos teuto-russos
O documentário fala sobre a imigração de teuto-russos, descendentes de alemães que moravam na Rússia, devido ao regime de Stalin. São contadas várias histórias de imigrantes que se alojaram no oeste de Santa Catarina.
Autoria: Débora Tozzo e Leyla Spada
Duração: 59m01
Orientação: Fernando Crócomo
Ano: Dezembro 2000

É hora do milagre
O documentário, em formato de programa, mostra as políticas por trás do pentecostalismo no Brasil. Mostra a rotina dos adeptos e explica como funciona a febre das seitas originais dos Estados Unidos. No final dos anos 80 era a segunda maior religião no país mais católico do mundo, sendo considerada o maior fenômeno religioso do século passado.
Autoria: André Rhode
Duração: 38m48
Orientação: Luís A Scotto
Ano: Dezembro 1989

Sem-tetos

Expõe o drama da má distribuição das terras em Florianópolis e a luta dos sem-teto por um lar. Mostra a Ilha há quase 20 anos, quando a cidade passava por transformações a fim de torná-la um pólo turístico cinco estrelas. Alerta para a forma não democrática na qual as privatizações e as desocupações eram feitas. Mostra ainda as dificuldades que os migrantes de baixa renda passam para se estabelecerem na cidade.
Autoria: Rosangela Bion
Duração: 23m59
Orientação: Beatriz Wagner
Ano: Dezembro 1989

Galo de Briga
Documentário sobre a vida do artista plástico Ernesto Meyer Filho, morto em 1991, aos 72 anos. Com diversos relatos sobre a vida e a carreira do pintor que garantia manter contato com o planeta Marte.
Autoria: Marta Moritz e Adriana Martorano
Duração: 18m21
Orientação: José Gatti
Ano: 1993